quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Maquiavel

O Príncipe:



“(…) é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha de perder uma das duas. Porque isto se pode dizer genericamente acerca dos homens: são ingratos, volúveis, dissimulados, esquivos ao perigo, e cúpidos de lucro; e enquanto o príncipe os beneficia, todos se dizem seus, oferecendo o sangue, os bens, a vida, os filhos, como se acima se disse, quando a necessidade está distante; mas, quando ela está perto, logo se rebelam. (…) E os homens hesitam menos em ofender um que se faça amar do que um que se faça temer; porque o amor consiste num vínculo de obrigação que, dada a maldade dos homens, é roto no primeiro momento em que se levanta o interesse; mas o temor consiste num medo de represálias que nunca cessa.”

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Aves migratórias

Os pensamentos nocturnos são aves migratórias


Não têm raízes porque altas vivem: nos seus voos na sua permanência terrestre, real, na vida.

São cometas ao redor das palavras que nascem em ti.

Os pensamentos nocturnos são as mágoas abertas

Sem pudores, sem formas, são a abstracção Do que se quer viver e do que se viveu

Embrulhadas na roda permanente do pensamento.

Por isso, os poetas escrevem à noite.

Não para fazerem brotar o seu pensamento

Mas para tornarem leve carga da vida.

Por isso, toda as palavras se encontram à noite, pela mão de quem as pensa e sonha.E justamente ganham o ímpeto.

A mão traz sempre a força e a delicadeza

O double sense dos que pulsam em vida.

Já a palavra dos homens são arcos

Que nos rodeiam na infinita mão do universo

Não creio nas mãos boas

Mas creio nas mãos firmes

Não creio nas palavras belas

Mas creio nas palavras âncora, rocha.

A fazer permanecer na terra a Humanidade.



Uma familia Moderna

Milagrário Pessoal

Fui ver a apresentação do último livro de José Eduardo Agualusa na Fnac - Milagrário Pessoal - eis-me na segunda fila, com poucos oponentes na primeira, a não ser a sua, presumo, namorada - alta, esguia, branca, olhos e lábios muito expressivos, brasileira pelo sotaque, bonita à sua maneira, orgulhosa de estar ali ao lado dele, ele a precisar dela para pegar no casaco, ou para lhe dar uma caneta para assinar livros, ou para lhe confirmar datas ou nomes que não ocorriam no momento discursivo. mas deixemos em paz a namorada do Agualusa, não é por isso que estou aqui. Queria sentir a magia que sonho que todos os escritores devem ter a transpirar por todos os poros; dizer que olhei bastante o agualusa para ver essa magia; houve a certa altura um mau sinal da minha parte por ter querido olhar tanto, sem olhar, que ele se dirige a mim e afirma que eu devo ter muitas perguntas para fazer. e tive, mas sairam tão desconcertadas e previsiveis que deve ter ficado a achar que eu parecia mais interessante por fora do que o resultado da minha actividade cerebral. são assim algumas situações. o que circula nas fileiras internas não corresponde depois ao resultado exterior, fica-se bacoco. em contrapartida, o Agualusa falou da língua portuguesa, de Angola, da ressaca do escritor depois de escrever, do sonho que todos os escritores têm de criar novas palavras; fez ainda uma leitura de uma passagem do seu livro; disse que tinha vindo da Alemanha, os seus livros estão traduzidos em mais de vinte paises, e agora ali, naquele espaço, a meia luz, com tão poucas e mais ou menos silenciosas pessoas, e ele, tranquilamente a fazer o seu milagrário pessoal.







(...)"O nosso destino é o de nos engolirmos uns aos outros, disse-me Moisés da Conceição quando há alguns anos o encontrei, nesta nossa cidade de Luanda, onde o trouxera o negócio da cera. Se os portugueses comeram dos angolenses, e estão comendo, hão-de os angolenses comer também seu pedaço dos portugueses, e desta forma, todos bem nutridos,


melhor enfrentaremos o porvir e a cobiça dos povos alheios.

Os descendentes dos angolenses, hão-de um dia falar um português próspero, redondo e musical, e quem os ouvir talvez consiga escutar no eco de certas palavras o largo rumor do Quanza passeando-se em direcção ao mar, o colorido piar de suas muitas aves, o zunirdos insectos, o cair das chuvas, o ribombar dos trovões, o silvo do vento soprando húmido por entre o capinzal(...)

Excerto do cap.II.

Litle winter conversation






Winter woman



O que mais te seduz numa Mulher:?

- o calor e a sensação de amor que transmite.
- tu consegues tirar-me o impossível.

The gamblers, yes we are.

Bem, a conjuntura do país não é nada boa e acordamos todos os dias cilindrados com essa ideia. Para nos mantermos informados, lemos os jornais, vemos a têbê, ouvimos os economistas e sempre o mesmo sentimento crescente de que a coisa não está para brincadeiras. A nossa Dívida, o desemprego, o novo tipo de desemprego, a corrupção, o desenho do Portugal comezinho, os paises como a Alemanha, a França, a puxarem-nos as orelhas e nós abaixarmo-nos para não cairmos com o puxão. Mas a situação não é tão linear. É bem mais profunda e grave. Creio que todo o Português não fica imune a todos estes cenários económicos, políticos, e sociais e fica facilmente com o sangue a ferver; as revoluções começam precisamente em situações de crise, e nós precisamos urgentemente de várias revoluções, as que purificam o sangue expurgam os maes do medo, seja a mudança profunda de comportamentos individuais e colectivos, e a fiscalização do jogo. Aqui, tudo é jogo, tudo é aposta, tudo é vigilância do jogo. E em todos os jogos só ganha quem é mais forte, quem é melhor a jogar. Os jogos entre estado e sociedade não são de agora, mas os jogos entre estados: Estados Fortes versus Estados fracos são bem fresquinhos, e vêm agravar a situação. As economias que souberem jogar melhor são as vencedoras; os melhores acabam sempre chegar mais alto. Assim o é também com as pessoas. Os jogos são para uma boa maioria uma forma de ganhar poder e de existência. Se não alinhas no jogo vives na sombra ou morres. Os bons jogadores, esses, têm sempre um tremendo sucesso na vida. Agora entendo a minha posição de rectaguarda num outro ranking. também nunca fui grande coisa em jogos.