quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A influenciável – quem influencia quem?


Sempre ouvi dizer que a falta de personalidade era sinónimo de pouca ou fraca força dos traços que definem e identificam um indivíduo. Julgando crer de que se estabelece o binómio: fortes versus fracos, tenho, no entanto, constatado nos últimos tempos que a teoria de que alguém se deixar levar pelos outros, isto é, alguém influenciável, com pouca ou fraca personalidade, sendo, para grande parte das pessoas fraqueza de comportamento, leva muitíssimo à minha desconfiança.

Ora, tendo analisado o meu comportamento e de mais alguns espécimes, tudo me leva a enveredar pelo sentido contrário: Ser influenciável não é falta de personalidade, antes ter personalidade a dobrar. Se é que que se pode dizer. E confesso, perante a desilusão que poderá causar para os meus pais, que sou decididamente uma pessoa influenciável. Mudo de opinião consoante a companhia, mudo de estado de alma segundo o humor do dia, ou a dor menstrual, a irritação cutânea que surge inusitadamente, ou a carga emocional intravenosa injectável pela rouquidão dos dias, ou ainda pelo ambiente feio à minha volta; influenciável aos sorrisos doentes, hipócritas, às maledicências, à mesquinhez, à maldade, ao barulho produzido por certas pessoas, ao não reconhecimento, à falta de justiça, à falta de atenção e de verdade, à pobreza de pensamento, and the lis is long; não sou imune e fico logo doente, sim! Fico imediatamente com sintomas de gripe em estado avançado até chegar a uma anemia espiritual que não sei bem explicar. Também verifico que sou extremamente influenciável, mas em doses extra extra large a todo e qualquer tipo de dferentes modos de vida e viveres, ao sentido de humor, à música do Vinicius do jobim, do Yo yo ma, dos gotan Project (não chegaria o espaço nesta dimensão), à melody gardot pela sua inconfundível presença, aos que querem amar e têm medo, aos que extravasam o seu eu como jactos de água, à euforia, à alegria de viver de muitos seres, às crónicas dos jornalistas do i, aos blogs do Pedro mexia e da Mónica marques e do Pedro rolo duarte, ao Lobo Antunes que multiplica as minhas vozes interiores; sou influenciável à beleza de certas pessoas, à grandeza de certas acções (as poucas que ainda se vêem), à força da tua mão; rendo-me perdidamente, (e até chego a mudar de fisionomia) ao perfume de certos pensamentos lidos no acaso, ao discurso torrente do woody allen, à voz do Peter Murphy, ao D. Quixote que me ensina a viajar sem ser reconhecida, ao murmúrio do mar; em muitas situações deixo de ser eu para ser outra pessoa, deixo o meu ego a descansar no jardim das traseiras, nos arrumos lá naquele aposento quieto e em silêncio, e parto, parto sem saber quem parte, ou de como vou ficar quando regressar. Sou influenciável ao ponto de me transformar para captar a essência das coisas e de certos lugares. Sou influenciável porque quero vencer a finitude, porque gosto de pensar que vivo mais, porque não fico só pela metade de tudo, porque não me chega só o meu eu, porque preciso de me desdobrar constantemente, reinventar, manter sagrado o que é são quando o resto é tudo loucura. Influências à parte sou levada a crer que se trata mesmo de entusiasmo, pelo que é sempre ganho.


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