Todos em algum dia das nossas vidas escrevemos cartas de Amor que nunca chegaram ao seu destinatário, leia-se, ao nosso amor do momento, ora por falta de coragem, de jeito, ou simplesmente porque não estava escrito que elas tivessem de chegar ao nosso eleito da época. Somos todos uns babacas (influências de 3 semanas linguisticamente brasileiras), quando escrevemos cartas de amor, ficamos moles, dengosos, falamos melado, deixamos a razão numa escotilha e tornamo-nos numa espécie de escravos sentimentais de aborrecido uso das palavras que nos servem para canal de demonstração da torrente sentimental vivida naqueles instantes; Fernando pessoa, o meu querido, era genial enquanto fernando, mas um dengoso enquanto nandinho a escrever a Ofélia; como é que alguém consegue escrever cartas assim sem ser chamado à responsabilidade e ao tribunal das paixões corpulentas, auto afirmativas e suficientes, que não precisam de recursos fraquíssimos como as estruturas linguísticas usadas nas cartas de Amor!? Eu, tal como o nandinho, fico paulinha(como odeio ser paulinha) quando escrevo cartas de Amor. Confesso que a minha sina, senhor, neste mundo, é infelizmente, ser devota das cartas de amor, e prostrar-me no genuflexório das palavras de Amor, tal qual como a devota beata das igrejas católicas, apostólicas, romanas, ou seja, uma chata e melosa na minha servidão. Porém, sucede-me, e ao contrário de outros tempos que não tenho mais coragem de as enviar e por isso fico frustrada; como chocolate durante semanas, vou à casa de banho frequentemente urinar, tenho ataques de ansiedade, taquicardias e outras que tais porque não tive o desplante de enviar os caracteres a jorrar lava de sentimentalismo barato; sou uma inútil. Uma amiga diz que tudo deve ser dito quando falamos de emoções, nada pode ficar guardado, tudo deve ser deitado para fora do casebre(coração) sob pena de não vivermos intensamente o que a vida nos oferece; eu cá fico-me pela cautela. Acho que nem tudo deve ser dito ou escrito quando estamos apaixonados sob pena de parecer e ficar afectada pela persuasão de agradar alguém. Sob pena de no outro lado nos julgarem dengosas, mesmo e quebrar o encanto. Então, eis a questão: Como escrever cartas de Amor sem sermos ridículas? Para resolver o meu problema, acho que tenho uma solução. Escrever, sim, mas em vez de as deitar para o lixo ou guardar na gaveta e arranjar com isso problemas psicossomáticos, o melhor será enviá-las para o universo que é, em meu entender o melhor dos destinatários das cartas de amor, o que está à altura da grandiosidade deste nosso pequeno acto; o mesmo será dizer que o melhor é enviar as nossas cartas de amor para um sitio como este, o blog, um universo onde tudo o que se publica fica guardado e enviado aos deuses, pelo menos a deuses silenciosos, como espero.
A cidade como produto financeiro
Há 4 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário