A Joana Amaral Dias, de quem aconselho vivamente a leitura do seu livro: Maniacos de Qualidade, rasgou este espaço virtual com um parágrafo que recomendo vivamente. Para ler aqui.
Preocupa-me violentamente o estado das coisas.
A alegria deve ser alternada com períodos de nostalgia, de reflexão, de interiorização, sem necessariamente se cair na depressão, isto é, aquela tristeza himalaia erguida dentro de nós por longos períodos que não nos deixa apreciar o bom, o belo da vida; tenho para mim que se deve aprender, no fundo, a sedimentar as ideias nos compartimentos internos e depois deixar actuar na personalidade as boas emoções. Gosto de pessoas discretas, serenas, mas intensas; supérfluas quando têm que ser supérfluas(a vida às vezes já nos presenteia com acontecimentos pesados o suficiente). Não gosto de histriónicos, não gosto de pessoas que concentram o seu discurso a relatar a sua vida e acontecimentos que nela operam como se de uma história interessantissima se trate; milhões de estórias de milhões de pessoas deste planeta são interessantissimas; a nossa estória de vida é sem dúvida única, e como tal deve ser preservada, guardada para nós, sob pena de andar na boca de algumas pessoinhas que não sentiram o que nós sentimos quando nos aconteceu o que aconteceu, nem vêem a nossa vida como algo interessante porque também têm as suas vidas interessantes. Há ainda os que sofrem de alter egos inflamados: A pessoa que tem um alter ego inflamado é do pior que há, não obrigada. Não há ponte possível; não deixam espaço para mais nada; são os narcisos a reflectirem no lago e, isso, só emoldurado numa tela num museu. Também há o lastimoso que se torna sedento de piedade e para isso também não há pachorra. A piedade é passar o recibo de incapacidade a alguém de ser capaz de gerir a sua vida. Quem melhor do que nós para sabermos como gerir as nossas vidas? Há depois os loucos que apesar de certos e fascinantes andam a esmurrar-se com a sociedade e isso cria hematomas e depois a pomada para sarar leva tempo. Há os que têm vidas dificeis e, esses, nem tempo têm para falar, quanto mais para se queixar. Há, e para minha felicidade, o Género sóbrio e Humilde sem se despojar de personalidade; o que concilia a inteligência com Humildade e discrição, adicionando-lhe a simpatia, ainda que por dentro seja visitado pelos tais Himalaias que se instalam em nós de quando em vez; o que se rende ao mundo das ideias e das pessoas que gosta, sem medos. Silencioso e ao mesmo tempo actuante; confiante e ao mesmo tempo humilde. Há certamente mais casos que irei nomeando oportunamente; estes foram só os que têm ultimamente desfilado à frente do meu globo ocular. ah, esqueci de me integrar num destes quadros, mas agora também não vale a pena, deixo isso para o espelho de todas as manhãs.
Ontem foi a minha estreia na rádio. O debate sobre a palavra dita versus palavra escrita. As palavras fazem sempre parte da minha vida e já agora também o ginásio: a elitica, o remo, a bicicleta. 2010 é o ano do Tigre para os chineses; parece, e segundo os cálculos deles, que também sou tigre; portanto este será o meu ano, para o dedicar a mim e não aos outros; para experimentar novas palavras, novos hábitos, novas idas a concertos, e novos convites assim de vez em quando para ver se se minimizam os efeitos que algumas realidades andam a lançar; estou como o Pacheco Pereira e ainda recordando o último Post: Como adoro Vulcões! Mas dentro de mim.
Os vulcões têm efeitos devastadores e a comprovar está este na islândia: voos cancelados, aquela megalomania nos céus com o que esse vulcãozinho anda a expelir, prejuízos aos milhares de Euros, dores de cabeça nos aeroportos, noites sem dormir, dias à espera para regressar a casa, o ter que permanecer quando tem que se andar. Este vulcão deve ter a mania realmente de que as pessoas têm a vida dele: a dormir durante não sei quanto tempo e de repente sem dar caneco a ninguém resolve despertar até os Deuses que estavam tão tranquilos da vida lá nos céus a governar. Quero saber quem vai limpar tamanha festa que este rapazinho decidiu fazer ao acordar do seu sono de Cinderela. Pois é. Agora temos que aguentar a bomboca de mais um capricho do menino a berrar e a deitar baba por tudo quanto é espaço aéreo. Não há pachorra. Já não chegam os vulcões que nos habitam, com as suas manias e esquisitices, daqueles que nos fazem fazer 3 parvoíces e 1 coisa sensata só porque queremos sentir que estamos vivos que ainda vem este senhor da Islândia com tamanha verbosidade - noone can´t stand it -. Já não chegam as nossas lavas como a angústia de te perder numa terça-feira qualquer só porque já não aguentas gostar desta maneira e eu não consigo gostar desta maneira, e porque não estava escrito lá no céu que eu e tu pudessemos existir aqui em baixo, que ainda tinha de vir este vulcão islandês para lançar a sua maldade para o céu, que é o único lugar que não me canso de olhar, olhar sem ter medo.
Comemora-se hoje o aniversário daquele a quem não foi preciso falar muito para mudar a rotação do planeta. Às vezes é assim comigo, gosto de alguns tipos de silêncio entre as pessoas e ainda assim saber que estamos a comunicar; não deixar cair palavras só por deixar. É no silêncio que se edificam as pontes e não barreiras. As palavras têm dupla personalidade: Atraiem-nos ou afastam-nos das pessoas. Os gestos têm carácter sólido e é nessa solidez que se erguem as palavras verdadeiras.
Las tardecitas de Buenos Aires tienen ese que se yo, viste?
Salgo de casa por Arenales, lo de siempre en la calle y en mi...
Cuándo, de repente, detras de un árbol, se aparece el.
Mezcla rara de penultimo linyera
y de primer polizonte en el viaje a Venus.
Medio melón en la cabeza,
las rayas de la camisa pintadas en la piel,
dos medias suelas clavadas en los pies
y una banderita de taxi libre levantada en cada mano.
Parece que solo yo lo veo,
Porque él pasa entre la gente y los maniquíes le guiñan,
los semáforos le dan tres luces celestes
y las naranjas del frutero de la esquina
le tiran azahares.
Y así, medio bailando y medio volando,
se saca el melón, me saluda,
me regalo una banderita y me dice:
(Cantado)
Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
No ves que va la luna rodando por Callao,
que un corso de astronautas y niños, con un vals,
me baila alrededor... ¡Bailá! ¡Vení! ¡Volá!
Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
Yo miro a Buenos Aires del nido de un gorrión
y a vos te vi tan triste... ¡Vení! ¡Volá! ¡Sentí!...
el loco berretín que tengo para vos.
¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Cuando anochezca en tu porteña soledad,
por la ribera de tu sábana vendré
con un poema y un trombón
a desvelarte el corazón.
¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Como un acróbata demente saltaré,
sobre el abismo de tu escote hasta sentir
que enloquecí tu corazón de libertad...
¡Ya vas a ver!
(Recitado)
Y asi diziendo, el loco me convida
a andar en su ilusión super-sport
Y vamos a correr por las cornisas
¡con una golondrina en el motor!
De Vieytes nos aplauden: "¡Viva! ¡Viva!",
los locos que inventaron el Amor,
y un ángel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.
Nos sale a saludar la gente linda...
Y loco, pero tuyo, ¡qué sé yo!:
provoca campanarios con su risa,
y al fin, me mira, y canta a media voz:
(Cantado)
Quereme así, piantao, piantao, piantao...Trepate a esta ternura de locos que hay en mí,
ponete esta peluca de alondras, ¡y volá!
¡Volá conmigo ya! ¡Vení, volá, vení!
Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Abrite los amores que vamos a intentar
la mágica locura total de revivir...
¡Vení, volá, vení! ¡Trai-lai-la-larará!
(Gritado)
¡Viva! ¡Viva! ¡Viva!
Loca el y loca yo...
¡Locos! ¡Locos! ¡Locos!
¡Loca el y loca yo
«Segundo alguns psicanalistas quando nos apaixonamos não nos relacionamos com alguém de carne e osso mas com uma projeção criada por você mesmo e a projeção que fazemos é a de um ser completamente perfeito. Mas depois de um período a projeção acaba e você passa a ver de verdade a pessoa com que está se relacionando; invariavelmente algumas virtudes do parceiro ou da parceira vão embora com a projeção...
outras ficam...
e se o que ficou de cada um for suficiente para os dois, a relação perdura.
caso contrário... ninguém sabe o que faz o botãozinho ligar e iniciar uma nova projeção.»[Freud]
HOT Chip – One Life Stand -, Transa Atlântica de Mónica Marques, adquirida numa maravilhosa aparição, numa feira de livros na Gare do Oriente, o Woody Allen e a sua prosa irónica, neurótica mas inteligente, desconcertada e ao mesmo tempo inquietante, incrivelmente absurda mas cheia de humor, a tua voz ao lado; tudo a fazer fila para entrar pela porta algo hermética nos últimos tempos do meu pensamento. Adicione-se, ainda, a incrível inquietação sobre a verdade que se me afigura cada vez mais evidente de que os livros surgem na nossa vida ao mesmo tempo que falam das nossas histórias reais, fazendo um Pounch – Wake Up bastard, this is you, this is your history, don´t forget to clean all the pieces of you on the Wet Floor. As Frases que agarro ao presente são íman para agarrar a vida. Será que agora vou começar a escrever a sério? Ou será mais um capricho efusivo resultado da leitura jactante de um livro numa tarde? sempre tive um desejo nunca antes partilhado, de poder abandonar o mundo de vez em quando, assim por largos meses, não de partir num barco e viajar pelo mundo, mas recolher-me numa daquelas casas para escritores, e, como uma espécie de retiro, escrever, escrever, escrever e escrever, deixando para trás todos os demónios, purificar-me, despejar maleitas interiores acumuladas, despejar tudo até ao limite, deitá-las para outras cabeças, para quem tiver paciência de ler; passar maldições para os leitores e assim ser salva e não salvar. É para isso que muitos escritores escrevem, não porque gostem do mundo, mas para despejarem as suas maldições. (Close thought: Tudo isto é pura teoria: quem em Portugal fica salvo através da escrita sem estar exposto, Portugal é pequeno demais para se estar a salvo do que quer que seja, in a matter of fact). Anyway, esta semana santa, trouxe-me uma espécie de retiro idílico, não um retiro existencialista, solitário, surdo, mas com doses extras de prozac humanista e literário: bring me Woody allen que me fez aumentar a vontade de viver na condição do Whatever Works; isto chamo de encontro perfeito, like soul mate, e a prova evidente que também sou a litle beat neurotic, and romantic, idealistic, e que não se apaixona pela lógica. Find out: Sou perfeitamente irredutível a quem vem logo esgrimir argumentos assentes numa lógica das qualidades e características do seu amado(a), tornando-o num ser romanceado, tudo menos humano; é próprio dos humanos terem muito mais defeitos e ainda assim serem amados, sem para isso haver explicações. Ao contrário do trabalho, o Amor existe, sente-se e não precisa de argumentação; pode-se exprimir perfeitamente num conjunto de orações linguísticas, mais ou menos entrelaçadas para formar uma espécie de arquitectura do sentir. A minha avó paterna nunca dissertou muito sobre porque amou o meu avô, e estiveram juntos a vida inteira. Nunca lhe assisti a uma crise de depressão por causa do seu casamento, ou angústia, e foi um Amor intenso; lembro-me de ser pequena e ouvir a voz do meu avô para a minha avó, a perguntar-lhe se ela não iria arranjar o cabelo à cabeleireira; chegava ele mesmo a fazer o telefonema e marcar com a cabeleireira a ida da minha avó; era um gesto verdadeiramente romântico sem o ser muito evidente. Já a minha outra avó entrou no corredor das paixões e amores violentíssimos, dilacerantes, arrebatadoras e foi uma mulher sempre melancólica, optou muitas vezes por pensar muito, ponderar escolhas e recuar, mas avançar quando se tornava legítimo e obrigatório; Não se procure muito explicar, argumentar o porquê dos amores, mas deixe-se a porta escancarada para quando algo de bom entrar que seja bem- vindo. Whatever Works it´s fine, and if it Works, better, if not, try again. São assim os Sábados perfeitos, como os da semana santa: dedicado ao Amor pelos livros, pela música, pelo cinema e pelo meu cobertor vermelho de alguns-fins-de-semana a serenar o espírito e corpo inquietos e a tua voz logo ali ao lado para ouvir isto tudo a sair.