quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A solidão das caminhadas & solidão literária

As caminhadas têm sido, senão muito, pelo menos bastante revigorantes do ponto de vista físico. No entanto, a mente, essa, anda atracada em portos marítimos distantes.
Ontem recebi um dos emails mais bonitos dos últimos tempos, que fala sobre solidão segundo palavras de chico buarque e diz assim:

SOLIDÃO VISTA PELO CHICO BUARQUE

"Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo.....
isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar.....
isso é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos.....
isso é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida.....
isso é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado.....
isso é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma .....

Não sei porquê mas quando recebi este texto coloquei os meus últimos dias de joelhos perante estas palavras. Às imagens mentais que vão saindo das gavetas, surgem também o corolário de situações vividas e pessoas fotografadas, e sua inclusão na categoria de momentaneamente e intensamente sós.

Primeira imagem: um descampado perto de um campo de futebol, eis que surge aquele que foi o homem mais solitário que vi na minha vida. A cabeça em direcção ao chão, as mãos abandonadas, e atrás de si, um quase invisível gatinho preto e branco. A marcha do homem e do animal eram uma só.

Segunda imagem: Mulher, 40 anos, filha 20, filho 8.O filho joga à bola com um amiguinho, a rasgar o vento, longe do olhar da mãe; a filha, beija-me, cheira o meu perfume, observa o meu vestido, as minhas olheiras, e na sombra vejo enterradas as suas emoções. A mãe, com um vestido rosa e lilás, lenço azul a colorir a cabeça e o olhar mais brilhante do universo a caminhar na minha direcção; atrás dela, esmagada perante o poder da sua alma, um linfoma reincidente.

Terceira e última imagem: Mulher, 35 anos, pára o carro, sai em direcção a um café, espreita não vê ninguém, mas no entanto entra; toma café, olha(não olha) o jogo da TV, não sabe para onde olhar, sozinha sai do café, vai a um jardim cheio de gente, não vê ninguém, volta ao mesmo café, pede para se sentar com um conhecido, não têm assunto. É, no entanto, salva pelo João, 10 anos, a pedir a sua presença na bilheteira do cinema porque está lá a mãe à espera para levantarem os bilhetes. Com carinho, à saída do café, a mulher pede a mão ao miúdo; ele leva-a. Ela sorri e descansa finalmente. Na sala de cinema, fica entre duas mulheres que não vê, e abandona-se à tela: julie & júlia, ante estreia, a inaugurar o Ciclo de cinema.

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