quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Agosto






















Hoje não me apetecia nada, nada sair da cama de manhã. As noites de verão são para frescuras e noitadas e esplanadas e vestidos lilases, colares, caipirinhas, vinho branco,  conversas ao ar livre, olhares ao ar livre e sorrisos também. Espraiar a mente, deixá-la solta, espreguiçar as palavras, molhar as palavras, torná-las veraneantes, a olhar a paisagem e as pessoas bonitas. Ninguém deveria trabalhar em Agosto. Agosto não rima com trabalho. Agosto rima com gosto, gostoso, cheiroso, amoroso, tudo, enfim, feito a gosto, tal como o verão deve ser. Todos os perfumes em Agosto ficam mais intensos, até aqueles que não devem ficar, mas não faz mal. Tudo floresce e cresce mais depressa, até os pelos das pernas e virilhas. Eles são como a natureza, crescem depressa; a natureza lá sabe o que faz, como diz a minha esteticista, depois de dois telefonemas clamando pelos seus serviços de tortura na caça ao pelo. Em Agosto a natureza também é madrasta, morrem as pessoas boas. Mas também estão sempre a morrer as pessoas boas. Em Agosto morreram pessoas boas. Será que ninguém consegue dizer à Morte para ter lá cautela. E depois não se espantem porque acordamos assim com esta cara, porque não queremos que morram mais boas pessoas,  porque não queremos ir trabalhar, queremos aproveitar as pessoas amorosas, os sitios gostosos, o mundo cheiroso. As minhas quintas-feiras em Agosto são parvas. Vou mas é comer um gelado.

1 comentário:

  1. sempre interessantes teus textos
    a vida é sempre assim tudo tem um principio e um fim """aceitamos"""
    a noite é romantica o dia é luz
    vamos comer um gelado

    nâo hà agua
    que apague este fogo!!!

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